19 de set. de 2025
YangPlanet Weekly– Tendências em clima e mercado de carbono
Roberto Alvarez
Notícias da Semana

Brasil aposta no mercado de carbono e nas florestas
↳ Por que isso importa?
O Brasil avança em duas frentes. No âmbito doméstico, está implementando seu novo Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE) com ênfase em integridade, transparência e inclusão O Ministério da Fazenda destaca que o mercado regulado será integrado ao mercado voluntário, elevando a escala das ações climáticas, e que haverá salvaguardas – por exemplo, exigindo consulta prévia, livre e informada a povos indígenas e comunidades tradicionais nos projetos.
Já no cenário internacional, o Brasil busca se firmar como líder climático propondo o Fundo “Florestas Tropicais Para Sempre” – um mecanismo multilateral de US$ 125 bilhões para conservar florestas – e comprometendo-se a ser o primeiro a investir nele, notícia de hoje. A iniciativa pretende destravar contribuições tanto de países ricos quanto de economias em desenvolvimento, quem sabe superando o impasse histórico no financiamento climático Norte–Sul.
↳ O pulso do carbono:
A proposta brasileira de criar um megafundo florestal global, combinada a um SBCE sólido, pode reduzir emissões domésticas, atrair investimentos e direcionar recursos significativos para a Amazônia e outras florestas tropicais. O êxito, porém, dependerá da robustez da regulação para que torne o mercado atrativo para investidores privados. Nos próximos meses, rumo à COP30 em Belém, será crucial demonstrar capacidade de execução e de gerar confiança. Se bem-sucedido, o Brasil poderá se afirmar como exemplo de conciliação entre preservação ambiental, justiça social e desenvolvimento econômico.
UE abre espaço a créditos globais na meta de 2040
↳ Por que isso importa?
Conhecida por metas climáticas “100% domésticas”, a Europa surpreendeu ao admitir o uso de créditos internacionais de carbono em sua nova meta para 2040. A Comissão Europeia propôs cortar 90% das emissões líquidas até 2040, permitindo, pela primeira vez, que até 3% dessa redução venha de créditos de carbono fora da UE.
Link da whitecase.com.
Traduzindo: a partir de 2036, países e empresas europeias poderiam compensar parte das emissões financiando reduções em outros países, dentro das regras do Artigo 6 do Acordo de Paris. Isso sinaliza que a UE pretende usar mecanismos de mercado globais – e pode estimular investimentos em projetos climáticos no Sul Globa. Em contrapartida, a ideia gera polêmica. ONGs alertam que a medida pode reduzir a ambição real: em vez de cortar todas as emissões em casa, a UE “terceirizaria” entre 140 e 430 milhões de toneladas de CO₂ para fora, como divulgou no começo do mês a carbonmarketwatch.org. Estimativas indicam que, com créditos, as emissões europeias em 2040 poderiam ficar 10–30% maiores do que seriam com uma meta 100% interna, levantando críticas de greenwashing e equidade.
Link da carbonmarketwatch.org.
↳ O pulso do carbono:
A decisão europeia reflete um cálculo pragmático: reduzir integralmente as emissões internamente tem custos elevados, e a compra de créditos internacionais pode oferecer eficiência e apoiar o Sul Global. Contudo, a mudança desafia a credibilidade construída pela UE em torno da descarbonização doméstica. Para manter a integridade, será essencial adotar critérios rigorosos, transparência e limitar o uso desses créditos. A forma como a proposta for implementada e comunicada definirá se será vista como um avanço pragmático ou como um retrocesso que fragiliza a liderança climática europeia.
Para ficar de olho:
Cúpula de Ambição Climática da ONU – 24 set 2025: Evento de alto nível convocado pelo Secretário-Geral da ONU durante a Assembleia Geral. Espera-se que líderes mundiais anunciem novas metas climáticas e aportes financeiros mais ambiciosos. Será um termômetro do compromisso global antes da COP30 – e do quanto o clamor por mais ação imediata está sendo ouvido.
Climate Week NYC – 17 a 24 set 2025: A Semana do Clima de Nova York ocorre paralelamente à Assembleia da ONU, reunindo cerca de 500 eventos com lideranças governamentais, empresariais e da sociedade civil do mundo todo. Devemos ver anúncios de empresas reforçando metas de carbono zero (ou revelando planos de transição), iniciativas colaborativas entre cidades e Estados, e possivelmente acordos setoriais (por exemplo, novas alianças contra o metano ou desmatamento).
Pré-COP30 em Brasília – 13 e 14 out 2025: A capital brasileira sediará em outubro a reunião preparatória (Pré-Cúpula) de negociadores internacionais para a COP30.
Ministros e enviados de diversos países vão tentar avançar nos temas espinhosos antes da conferência de Belém. Em pauta devem estar: as regras finais do Artigo 6 (trocas internacionais de créditos) que não fecharam na COP28, mecanismos de financiamento de perdas e danos, aumento de recursos para adaptação, e como incorporar mais soluções baseadas na natureza nas estratégias globais. Dado o foco amazônico, espera-se atenção especial à proteção de florestas e povos indígenas. O resultado da Pré-COP30 será crítico – se houver convergências, chegamos em Belém com terreno fértil para acordos; se persistirem divisões profundas (pense em financiamento climático, por exemplo), a pressão recairá sobre a diplomacia brasileira para destravar um consenso em novembro.
Foto: Agência Brasil.