Sep 4, 2025
Os 9 limites planetários - e o alerta de Carlos Nobre
Lua Schabib
clima

O climatologista brasileiro Carlos Nobre, referência mundial no estudo da Amazônia e do sistema climático, afirmou durante o Fórum dos BRICS que se não tomarmos medidas suficientes e rápidas, podemos ultrapassar mais rápido do que o previsto o limite de 1,5 °C de aquecimento global, rompendo em definitivo com mais um dos nove limites planetários.
Voltar nesse assunto é importante num momento de efervescência na economia regenerativa – incluímos aqui o mercado de crédito de carbono. Alguns caminhos estão abertos e intensos, por assim dizer.
Primeiro, é preciso entender que ultrapassar o limite do aquecimento global poderá impor mudanças drásticas no sistema de agricultura e cultivos de alimentos, além de provocar eventos climáticos extremos.
E isso afeta diretamente à Amazônia. Num cenário como este, a floresta perderia sua resiliência, podendo liberar grandes quantidades de carbono estocado – e intensificar ainda mais o aquecimento global.
Vira um círculo vicioso — aquecimento global que agrava a perda da floresta, e perda da floresta que agrava o aquecimento. O que exemplifica o que os cientistas chamam de pontos de ruptura climática – ou “pontos de não-retorno”. Uma vez ultrapassados, esses pontos desencadeiam mudanças irreversíveis. Por isso é necessário o pensamento em escala neste momento.
Em entrevista recente ao jornal inglês, The Guardian, Nobre alertou que a Amazônia e outras regiões críticas podem estar caminhando para um ponto de não retorno, com 18 % da floresta já desmatada e um risco crescente de savanização ou colapso ecossistêmico. Ultrapassar essa fronteira planetária significa acelerar processos como derretimento de geleiras, perda da Amazônia ou colapso de correntes oceânicas, com impactos duradouros em clima, biodiversidade e segurança hídrica e alimentar.
Carlos Nobre, que é climatologista e um dos cientistas mais influentes na discussão sobre os limites planetários, reforça que apenas proteger habitats não é suficiente. Se o clima continuar a se aquecer, mesmo as áreas mais bem preservadas deixarão de sustentar as espécies e os serviços ambientais dos quais dependemos. De novo, biodiversidade e clima estão interligados.
O Brasil, onde está localizada a maior floresta tropical do mundo, tem uma responsabilidade única e uma oportunidade histórica: liderar a agenda climática global e mostrar que é possível regenerar a Amazônia, conter o aquecimento e respeitar os limites planetários.
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Lua Schabib é ombudsman da yangplanet. Tem um livro publicado sobre o mercado de carbono - Brasil: Paraíso Restaurável (indicado ao prêmio jabuti 2021). Escritora, repórter e diretora de conteúdo.